Por que continuamos nos manifestando no Chile?

Já se passaram algumas semanas da prestação de contas do ex-presidente Sebastián Piñera. Desde 2006, os alunos esperam diferentes presidentes anunciar uma verdadeira reforma educacional. Essa reforma consistiria essencialmente na admissão eficaz que a educação é um direito social garantido pelo Estado, universal e gratuito.

No entanto, as expectativas dos estudantes não foram atendidas: vários governos e diferentes parlamentares continuam divorciados do consenso social sobre a reforma da educação.

Por que, em sete anos, não avançamos? Obviamente pela estreita ligação entre política e negócio, este último com participações significativas no mercado das instituições de ensino. No entanto, essa não é a única resposta: os sistemas educacionais também estão submissos aos modelos de desenvolvimento.

O modelo de desenvolvimento chileno baseia-se principalmente na exploração dos recursos naturais orientados para a exportação. O recurso mais importante é o cobre, conhecido desde sempre como o “salário do Chile”, e que, com o passar dos anos, está cada vez mais privatizado. Esse modelo, chamado “extração”, tem muitas deficiências: os recursos minerais não são renováveis​​, o valor agregado é mínimo e a produção contamina e prejudica as comunidades e os ecossistemas.

Portanto, a resistência da elite política e econômica à mudança na Educação tem um subtexto ideológico no atual modelo de desenvolvimento: o investimento nas pessoas não é uma prioridade. A ênfase está em extrair o máximo de recursos possível, independentemente do legado para as gerações futuras: destruição da terra, da água e a exploração dos seres humanos.

Uma real reforma da Educação vai além da gratuidade, o que, aliás, é justo e necessário. A reforma deve mudar o currículo, o significado da educação. Em primeiro lugar, consideramos a educação como um direito de vida, não apenas na infância e na juventude. Em segundo lugar, devemos procurar tornar os cidadãos responsáveis ​​e críticos. E, finalmente, o foco deve se concentrar na sustentabilidade, entendida como o paradigma de desenvolvimento que permite enfrentar os desafios de hoje sem comprometer as gerações futuras.

Esse desafio exige que os movimentos de reforma educacional aspirem a construir maiorias, deixando de lado os sectarismos e os corporativismos. É um desafio também convencer as famílias e todos aqueles que têm dúvidas ou perguntas, com argumentos e não com insultos.

A meu ver, essas duas abordagens requerem que a democracia, em um sentido amplo e irrestrito, como a veem hoje as elites políticas e econômicas, seja o campo e o limite de nossa ação política.

Este texto está disponível, no original, em: http://www.publimetro.cl/nota/politico/sebastian-vielmaspor-que-seguimos-marchando/xIQmfk!PwggjajlmO7RU/, publicado em 11 de junho de 2013.

 

Artigo original na Revista Educação Pública publicado em 18 de março de 2014: http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/educacao/0424.html

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